sábado, 16 de outubro de 2010

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"Obrigados, muitas vezez, a viver nas sombras, incitados à mentira e ao disfarce, os homossexuais partilham uma visao irônica da vida e dos sujeitos, fazendo do riso e do deboche formas de defesa e um certo estilo de vida. Os homossexuais cedo aprendem que as coisas não são o que aparentam, que as identidades são máscaras que se colocam ou que se tiram ao sabor das conveniências e das ocasiões. Muito cedo um homossexual aprende a desconfiar da seriedade do que lhe é dito e da forma como as coisas são justificadas. Desde cedo aprende que a sociedade é feita de representação e que há um descompasso entre as palavras e ações, o discurso e as práticas. Tendo aprendido, por experiência, que os sujeitos podem se transformar ao simples fechar de uma porta, que uma respeitável verdade pode desaparcer em poucos segundos, entre lençóis, o homossexual tende a relativizar as identidades e as verdades, duvidar das certezas e pôr em questão os valores morais dominantes. A homossexualidade é uma vivência de fronteira, de limite, é um não lugar, que permite um olhar distanciado e crítico em relação à norma, à ordem, aos lugares estabelecidos e valorados positivamente. (...)."

ALBUQUERQUE JÚNIOR, D. M. Michael Foucault e a MonaLisa ou como escrever a história com o sorriso nos lábios. In: RAGO, M; VEIGA-NETO, A. Figuras de Foucault. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.

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